O uso do Building Information Modelling (BIM) será obrigatório, a partir de 2021, nos projetos e construções brasileiras. Diante desta perspectiva inevitável, o Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES) vem debatendo o assunto com servidores da Corte, jurisdicionados e especialistas da metodologia que trata da modelagem da informação da construção. Neste sentido, realizou, quinta-feira (05), uma reunião a Companhia Paulista de Trens Urbanos (CPTM) e a prefeitura de Florianópolis que compartilharam suas experiências com a Comissão BIM do Tribunal.
O BIM é um modelo de gestão de informação da construção que possibilita a criação de um banco de dados e representação virtual do objeto que será construído. De forma digital, os modelos virtuais podem ser visualizados em três dimensões e também em realidade virtual e aumentada. Além disso, o banco de dados da plataforma possibilita o compartilhamento dessas informações entre os diferentes profissionais envolvidos no processo.
A democratização dessa plataforma faz parte do processo de estudo do BIM, realizado pela Corte de Contas, com a finalidade de capacitar servidores para que o TCE-ES possa se preparar para realizar as fiscalizações de projetos e obras realizadas com base na metodologia BIM, além de orientar seus nossos jurisdicionados.
A reunião virtual contou com a participação de dois especialistas convidados. O arquiteto e urbanista, chefe do Departamento de Consistência e Inovação de Projetos CPTM, Fernando Galego Boselli, e a engenheira civil Kesia Alves da Silva, sócia-fundadora da Conexão BIM. Ela foi consultora do BID na Prefeitura de Florianópolis, entre os anos de 2016 a 2018.
A mediação foi realizada pela auditora de controle externo do TCE-ES, Ana Emília Brasiliano Thomaz. “O Objetivo aqui foi compartilhar experiências de implantação de BIM em órgãos públicos. Vocês trouxeram novas abordagens para refletirmos. A comissão do BIM vai continuar as discussões e nós só temos a agradecer”, assinalou.
Planejamento e desafios
O arquiteto Fernando Boselli foi o primeiro a falar. Ele começou relatando como foram a implantação e os desafios da tecnologia BIM aplicada à ferrovia, em São Paulo, por meio da CPTM, realizado em 2014.
“O nosso contexto é um pouco diferente do de vocês, mas algumas etapas são comuns, independentemente da finalidade de como o BIM é utilizado. Nosso primeiro passo na CPTM foi escolher uma área para iniciar o BIM. Começamos pelo setor de planejamento. Vocês têm a comissão BIM, que é bastante legal e, a partir daí, as coisas vão evoluindo”, frisou.
A implementação do BIM, explicou, se divide em algumas frentes de trabalho, como a operacional que envolve a aquisição de licenças, compra de computadores compatíveis, etc. E tem ainda o pessoal, acrescentou.
“É a gestão de pessoas. Não é o caso do Tribunal, mas, muitas vezes, essa implementação vai causar um impacto na estrutura organizacional uma empresa de projetos, por exemplo. Isso, de alguma forma, tem que ser rearranjado. Áreas vão ter que se dividir. Isso pressupõe uma nova forma de trabalhar. Então, não basta só se preocupar com hardware, com compra de equipamentos de softwares”, enfatizou o arquiteto.
Passada esta etapa, a CPTM passou para o treinamento das equipes, fez o projeto executivo interno e começou a desenvolver a documentação. Ou seja, o padrão interno de contratação, além da criação de outros cadernos complementares de apoio a esse tipo de atividade.
Ele ressaltou que as expectativas com o BIM são as comuns a todos os processos, como melhoria na execução dos processos existentes e minimizar os problemas em obras. Contudo, o BIM não é solução de todos problemas.
“O BIM até é a solução dos problemas, mas não é tão mágico assim. Por isso, é importante que os executores conheçam o BIM, porque quando chegar até o Tribunal de Contas, para auditar alguma obra, a margem de erro é bem menor. É provável que percebam uma melhora nos processos que vocês analisam. Em se tratando de governo, na questão da transparência, os projetos feitos em BIM, que em tese estão todos certinhos, não tem margem para erro”, frisou.
O engenheiro citou que a principal conclusão tirada com a implementação do BIM foi a qualidade da obra. “O projeto qualificado na etapa de obra minimiza os imprevistos e gastos. Esse é o principal ganho do BIM”, frisou.
Plano de necessidade
Por sua vez, a especialista em BIM focada no setor público, Kesia da Silva também começou contando a experiência dela em Florianópolis, demonstrando o case da escola Tapera, na qual foi implementada a metodologia.
Entre os resultados alcançados, ela citou a sensibilização dos colaboradores e gestores para os benefícios do BIM; melhora no modelo tradicional já contratado; facilitação na especificação do projeto; orçamento mais assertivo; zero de aditivo; prazo da obra adiantado; obra de melhor qualidade.
Em seguida, destacou um problema percebido nas consultorias que fez. É que muitos órgãos públicos compram a plataforma BIM, mas sem saber como usar.
“A gente vê a vontade dos órgãos de, em primeiro, comprar o software e fazer a capacitação da ferramenta. Mas, na verdade, o que precisa primeiramente é ter uma estruturação do que se deseja desse projeto”, alertou a engenheira civil.
Para isso, assinalou, é necessário ter um plano de necessidade e um caderno de especificações bem estruturados, por que sem eles não é possível saber quais são os requisitos que a modelagem BIM necessita.
“E eu tenho encontrado um cenário muito ruim de prefeituras que, mesmo sem estrutura, fazem aquisição de licenças, mas não têm nem a especificação do que querem contratar, não têm profissionais adequados. Isso têm sido um problema. Mas temos tentado esclarecer, ajudar nos municípios da região de Santa Catarina, para não cometerem essa falha, fazendo um investimento sem planejamento”, frisou Kesia.
Ela explicou ainda que antes de executar a contratação do BIM, órgãos e prefeituras devem elaborar um plano de execução da metodologia, contendo:
– Elaboração de documentos (modelo de BIM mandate; modelo de Plano de execução BIM; modelo de plano de necessidades; dados de entrada de Projetos; entre outros);
– Capacitações internas (datas das reuniões gerais; datas das reuniões dos grupos de trabalho; datas das reuniões de sensibilização, etc);
– Ações internas (definir data para definição do (s) software (s) BIM utilizado; definir data para a compra das licenças; definir data de aquisição de hardware – se necessário;
– Ações externas (definir data da primeira contratação de projeto com requisito do uso do BIM; definir capacitações externas (empresas de projeto e empresas de execução terceirizadas); promover simpósios e palestras para o público em geral, etc.); e
– Plano de comunicação e treinamento externo.
Após as abordagens feitas pelo arquiteto e pela engenheira civil, servidores participaram fazendo perguntas aos especialistas.
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