Agora precisamos garantir qualidade na educação, e garantir um bom acolhimento para os alunos de uma forma em geral, em especial os que se encontram em estado de vulnerabilidade”.
Com essa afirmação o presidente do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES), conselheiro Rodrigo Chamoun, deu início à primeira oficina do projeto “Semear Cidadania”, nesta quinta-feira (12).
O evento, transmitido ao vivo pelo canal do youtube da Escola de Contas Públicas, continua nesta sexta-feira (13), e reúne profissionais da área de educação, saúde e assistência social, que debatem o tema “Como identificar, acolher e encaminhar alunos em situação de violência ou vulnerabilidade social e emocional”. Também participam representantes do Ministério Público Estadual e da Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo.
Esse tema ganha importância grande, por conta do momento em que estamos passando. Todas as organizações públicas e privadas estão sendo testadas em seu limite, no que refere à eficiência de se fazer com que as coisas funcionem bem, em meio a esse desafio humanitário em que estamos vivendo. Especialmente nas escolas, onde temos professores, servidores, funcionários, alunos, pais e pessoas da comunidade que passaram um tempo a distância. Agora precisamos garantir qualidade na educação, garantir um bom acolhimento para os alunos de uma forma em geral, em especial os que se encontram em estado de vulnerabilidade”, salientou.
Ele salientou a relevância da participação na oficina de profissionais das áreas de educação, saúde e assistência social. Setores, esses, que fazem parte da nova estrutura organizacional da Corte de Contas. “Demos um foco especial para essas três áreas. Elas têm total ligação com as necessidades de nossa população. Temos auditores especializados na avaliação de políticas públicas nessas áreas. Há um longo caminho pela frente ainda, mas estamos nos tornando referência nesse campo”, assinalou o presidente.
Missão
Dando continuidade à oficina, a mediadora do evento, a auditora de controle externo Luana Sampaio iniciou contextualizando a origem do projeto “Semear Cidadania”. Ela lembrou que, em março de 2020, todos foram surpreendidos com a pandemia causada pelo coronavirus.
As aulas pararam. Não imaginávamos que hoje, mais de um ano depois, essas aulas estariam retornando. Mas as coisas não retornaram do mesmo jeito, elas mudaram. Os efeitos dessa pandemia serão sentidos ainda, porque além das vidas ceifadas, as doenças nos acometeram. As questões que envolvem aprendizado, muitas vezes, não se realizaram durante esse período”, frisou.
Neste contexto, acrescentou, surgiram protocolos sanitários, perdas. “E a pergunta que nos traz aqui é: estamos preparados? O Tribunal de Contas hoje trabalha com base na eficiência, preocupado com a entrega, em saber como pode auxiliar a população nesse momento. Pensando nisso – como o Tribunal pode ajudar para garantir o direito a educação, e as condições que viabilizam isso, ou seja, saúde, assistência -, queremos identificar o aluno que precisa de ajuda. Essa é a nossa preocupação. Como encaminhar esse aluno, esse é o nosso propósito”, frisou.
Educação democrática
Para contribuir com essa missão, a primeira convidada da oficina, a professora e coordenadora pedagógica Joice Lamb, deu início ao debate. Ela é coordenadora do projeto “Aprender e Compartilhar – Escola Inovadora”, que visa a gestão democrática dentro das escolas.
A educadora contou os caminhos percorridos pelo referido projeto na escola em que atua, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. O projeto da professora, que transformou para melhor a escola gaúcha, foi reconhecido nacionalmente. E, por ele, Joice recebeu o prêmio “Educador nota 10” do MEC, em 2019. Antes de falar sobre o tema, ela parabenizou a iniciativa do TCE-ES.
Estou muito emocionada em participar desse evento, que se origina em um lugar diferente. Sempre imaginamos os eventos de educação se originando em escolas, secretarias de educação. Quando fui convidada, achei muito interessante. No início, não entendi o que teria a ver o TCE-ES com as propostas de educação que estamos fazendo aqui, no Rio Grande do Sul. Mas depois consegui visualizar nosso projeto dentro de uma estrutura social maior, porque a escola faz parte da sociedade”, enfatizou a educadora.
Ao falar sobre o título da oficina, “Como identificar, acolher e encaminhar alunos em situação de violência ou vulnerabilidade social e emocional”, ela questionou se não é a escola que está deixando essas crianças mais vulneráveis, pela proposta escolar muito restrita, opressora.
Não é só identificar. Precisamos pensar um pouco antes. Antes disso, o que é que vem? Então, é um presente falar sobre a construção de um ambiente acolhedor e democrático na escola: possibilidades a partir da integralidade do ser humano como um ser social”, disse.
Neste contexto, ela discorreu sobre o projeto do qual é coordenadora. “Não basta que se faça uma lista de dicas de como fazer alguma coisa. É preciso que se construa uma cultura de acolhimento. Será que todos são acolhidos? Muitas vezes, uma escola tradicional, que segrega os alunos, acaba afastando as pessoas umas das outras”, alertou a professora.
A proposta do projeto, acrescentou, é de uma escola com gestão democrática. Assim, com o apoio da direção, por meio de assembleias de pais, alunos, professores e funcionários, Joice foi, aos poucos, mudando a forma tradicional de ensino, relatou. Alunos passaram a trocar mais informações com colegas de turmas e idades diferentes e a explorar o ambiente escolar. Já os docentes puderam reavaliar suas práticas pedagógicas em formações planejadas com base nas necessidades de professores e alunos.
A educadora explicou que são três pontos essenciais para a gestão democrática: a participação democrática, a interação entre pais (chamada de educação sócio educacional) e o conhecimento. Com relação a esse último, a professora disse:
Não podemos falar de uma escola que não tenha o conhecimento como uma mola, o ponto central. Aprender é essencial na escola. As crianças vão para lá para aprender tudo, e mais um pouco. Dentro desse tema, trabalhamos com muitas ações, mas a que acho mais importante é a iniciação científica dos alunos, a partir da educação infantil”, frisou Joice.
Uma das ações é o “Fora da Caixa, no qual alunos de diferentes idades participam de oficinas ao lado de professores para trocar informações e aprendizados – todos são autores. A escola realiza uma feira Anual de Iniciação Científica, na qual os estudantes do Ensino Fundamental 2 escolhem seus temas para pesquisa e seus orientadores. O resultado é um recreio com brincadeiras entre estudantes do 5º ao 9º ano.
O “Fora da Caixa”, inclusive, foi um dos assuntos que mais gerou perguntas entre os participantes, que enviaram questionamentos por meio do chat.
Confira o primeiro dia de oficina na íntegra.
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