Após discutir sobre o trabalho de busca ativa para que os estudantes possam entrar e se manter na escola, os diálogos da Segunda Oficina do projeto “Semear Cidadania”, nesta quarta-feira (15), também abordaram os impactos da saúde mental do professor nos resultados nas salas de aula. O tema foi ministrado pela professora titular de Psicologia da Ufes, Beth Barros, que também possui pós-doutorado em Saúde Coletiva e Saúde do Trabalhador.
Em sua apresentação, ela destacou que trabalhar no campo da Educação implica diálogo, e como os professores são o elo, a linha desta rede, é preciso ouvi-los. Em pesquisas realizadas, verificou-se que professores estavam adoecendo ou com grande sofrimento psíquico, segundo ela.
Isso impacta também na qualidade da educação, já que um professor com uma série de quadros de sofrimento psíquico, de adoecimento mental, dificilmente poderia oferecer uma escola atrativa, digna e que pudesse pensar na aprendizagem para além da transmissão de conteúdo curricular, que se aliançasse a uma dimensão do viver, apontou a pós-doutora.
Beth pontuou que é necessário olhar para o modo como os professores trabalham, para entender que eles podem ser efetivamente um vetor, um convite para que as crianças possam vir e ficar na escola.
“Começamos a pensar nas formas de desfazer a relação entre dor, desprazer e trabalho entre os professores. Fatores como o baixo investimento em capacitação, precarização das relações de trabalho e perda dos direitos de proteção ao trabalhador contribuem para isso. A dor fica vinculada em um sentimento de indignidade”, explicou.
Ela propõe a reflexão sobre como as políticas públicas podem interferir na gestão desse trabalho educacional, pensando nas relações que se estabelecem no processo de ensino e aprendizagem. É preciso fazer uma mudança para que esse trabalho de educador não produza apenas dor, mas também alegria e prazer no trabalho
“Nossa meta é desfazer essa relação entre dor, desprazer e trabalho. Porque nós entendemos que toda chance de uma criança ir para a escola e ficar na escola, é produzindo redes afetivas de trabalho, redes que possam produzir um afeto alegre e que possam disponibilizar o professor e a professora a produzir um trabalho que conduza o aluno a estudar, aprender”, mostrou.
Para Beth, pensar em trazer e manter a criança na escola implica em também pensar em redes de trabalho que possam produzir saúde e uma vida digna para os professores.
“Não adianta incluir a criança em qualquer escola onde os professores não tenham o brilho no olho, não tenham o prazer de trabalhar, porque são tomados pela dor e pelo adoecimento. Incluir a criança na escola é da maior importância, fazer com que a criança fique na escola depende do modo como essa escola tem produzido redes afetivas de trabalho no campo da educação, do contrário ela não fica, nem ela nem os professores. Não há só a evasão de alunos, há também a de professores, que pegam licença, se afastam do trabalho, pois não estão suportando o adoecimento que esse trabalho tem produzido”, concluiu.
Interação
Em seguida, foi aberto o espaço para perguntas do público. Entre as intervenções, a pedagoga da Secretaria de Estado da Educação (Sedu) Eliana Bravim Teixeira Neves citou exemplos do que já foi feito em uma escola em que atuou.
“Exemplificando essa questão da alegria de poder produzir, como isso engaja os professores e deixa o ambiente mais prazeroso, destaco que na escola de tempo integral onde atuei os professores elaboravam uma disciplina eletiva, criada em dupla, a partir de algum conhecimento que tinham independente do conteúdo da licenciatura. Surgiam ideias muito criativas, autônomas, envolvendo saberes para além dos conteúdos escolares, e eles se sentiam muito realizados”, contou.
Para encerrar o evento, a auditora Luana Ramos Sampaio, que está na coordenação do projeto “Semear Cidadania”, ressaltou que repensando a escola como centro de cidadania, a sociedade pensa também sobre o papel da escola, que vai além de ensinar, pois conecta.
“A tarde de hoje foi muito proveitosa, conseguimos, sob diferentes retóricas, trazer a importância de ver o ser humano de maneira integral. Seja ele o aluno, o professor. Pudemos ver nos exemplos a importância do trabalho em rede, da intersetorialidade, do respeito, de entender a singularidade, e ver na diferença um potencial”, afirmou.
O projeto
O projeto “Semear Cidadania” busca levar cidadania às salas de aulas públicas e privadas de crianças no início da idade escolar até jovens universitários, de maneira prática e criativa, dando mais um passo para criar uma cultura de cidadania.
A finalidade do projeto é fornecer conhecimentos hábeis a formar cidadãos conscientes de seus direitos, deveres e que entendam as funções sociais das principais instituições brasileiras.
O público-alvo das oficinas, transmitidas pelo YouTube, no canal da Escola de Contas Públicas, são os gestores dos entes federativos do estado, secretários municipais e estaduais, gestores das unidades de ensino do Espírito Santo, comunidade escolar, a população e seus representantes.
Nesta segunda oficina realizada, o tema foi “Diálogos pela eficiência: Busca Ativa Intersetorial e Impactos da Saúde Mental do Professor na Educação”. Também participaram a médica pediatra com mestrado em Saúde Pública pela Universidade John Hopkins, Luciana Phebo e a doutoranda em Serviço Social pela PUC no Rio de Janeiro, Gisele Martins.
A primeira oficina, realizada em agosto, teve como tema “Como identificar, acolher e encaminhar alunos em situação de violência ou vulnerabilidade social e emocional”. Reveja aqui.
Assista na íntegra as palestras da segunda oficina do Semear Cidadania:
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