Neste março lilás, mês dedicado à sensibilização sobre o câncer de colo de útero, doença que pode ser prevenida por medidas simples, o Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES) alerta, por meio do novo Boletim sobre o Câncer de colo de útero, que ainda há grandes desafios na cobertura de vacinação masculina contra o HPV e na realização do exame citopatológico periódico na maior parte dos municípios.
Apesar disso, foram registrados avanços na cobertura vacinal, especialmente com a população feminina, e o Estado já atingiu em 2023 a meta mínima de 80% de vacinação contra a HPV na população de forma geral, considerando meninos e meninas.
O estudo, elaborado pelo Núcleo de Avaliação e Monitoramento de Políticas Públicas de Saúde (NSaúde), avaliou dados dos 78 municípios capixabas no que diz respeito ao câncer de colo de útero, a partir de dados da cobertura vacinal de HPV, exames preventivos e incidência da doença na população feminina. O tema recebe um tratamento especial por parte do órgão de controle, pois o câncer de colo de útero é o terceiro mais comum entre as mulheres, excluídos os tumores de pele não melanoma. Clique aqui e confira o Boletim na íntegra.
Vacinação
O estudo do TCE-ES mostra que houve uma ampliação da cobertura de vacinação contra o HPV no ano de 2023, em relação ao ano anterior. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).
Em 2022, 48 municípios não haviam atingido 80% da população feminina vacinada com ao menos uma dose, já em 2023, apenas seis municípios não atingiram este percentual, com ressalvas para Bom Jesus do Norte, com cobertura de 79,93%. Entretanto, apesar do avanço na cobertura vacinal no ano de 2023 em relação ao ano de 2022, a segunda dose da vacina ainda está abaixo do mínimo recomendado pela OMS, com 75,95% da população feminina, e 57,47% da população masculina.
O município que mais avançou foi Colatina, que em 2022 apresentou uma cobertura de 46,8% da dose 1 e 40,7% da dose 2 em 2022, e evoluiu para 92,4% da D1 e 79% da D2 em 2023. Já os municípios que apresentaram as menores taxas de cobertura vacinal em 2023 nas doses 1 e 2, para ambos os sexos, foram Pinheiros, Brejetuba, Laranja da Terra, Irupi e Marataízes.
O problema está agravado principalmente em relação à população masculina. Cerca de 40% dos municípios apresentaram cobertura abaixo de 80% para os homens.
O documento destaca que o impacto da vacinação em termos de saúde coletiva se dá pelo alcance de 80% de cobertura vacinal, gerando uma “imunidade coletiva ou de rebanho”, ou seja, reduzindo a transmissão mesmo entre as pessoas não vacinadas.
“O ES já atingiu em 2023 a meta mínima de 80% de vacinação contra a HPV na população feminina e masculina. No entanto, quando lançamos luz sobre cada município, é notável que ainda há um caminho de conscientização a ser feito”, pontua o estudo.
“Os homens têm papel fundamental na luta contra o câncer de colo de útero, pois além do risco de contrair doenças transmitidas pelo HPV, desempenham um papel significativo na sua propagação. Com isso, é essencial que a população masculina considere a vacinação como uma medida fundamental na prevenção dessa doença sexualmente transmissível”, acrescentou a área técnica do TCE-ES.
Exames preventivos
As alterações nas células que podem desencadear o câncer de colo de útero são descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido também como exame Papanicolau). Por isso, segundo o INCA, sua realização periódica é importante pelo menos a cada três anos após dois exames anuais consecutivos negativos.
O Plano Estadual de Saúde (PES 2020-2023) trouxe como meta “ampliar, gradativamente, a razão de exame citopatológico para rastreamento de câncer de colo de útero em mulheres de 25 a 64 anos, para alcançar razão mínima de 0,68 ao ano”. No ano de 2022, a razão mínima alcançada informada pela SESA foi de 0,55. Já no ano de 2023, a razão alcançada foi menor, de 0,40. Desta forma, ainda mais distante da meta prevista de 0,68 ao ano.
Outro indicador é sobre a proporção de mulheres com coleta de exame preventivo citopatológico na Atenção Primária à Saúde (APS). Em 2023, de acordo com o Sistema de informação em saúde básica (SISAB), os três quadrimestres tiveram resultados melhores do que em 2022, mas ainda menores do que a meta de 40%. Os alcances foram 27%, 29% e 31% de mulheres com coleta de citopatológico, em cada um dos quadrimestres.
Isso também pode impactar no financiamento federal da saúde pública, visto que o Programa Previne Brasil, criado em 2019 estabeleceu um novo modelo de custeio da Atenção Primária no SUS. Nele, há uma previsão de “pagamento por desempenho” considerando alguns indicadores, entre eles, o de “proporção de mulheres com coleta de citopatológico”.
Diagnóstico
O terceiro ponto abordado no relatório foi sobre a importância do rastreamento tempestivo do câncer para a redução da mortalidade, pois ele pode evitar a evolução da doença e consequentemente o óbito.
Elaborou-se um ranking, por município, do percentual de mulheres com idade entre 25 e 64 anos não beneficiárias de plano de saúde privado, que realizaram o exame citopatológico no seguimento ambulatorial pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos anos 2019 a 2022. Apenas 6 dos 78 municípios registraram um aumento na proporção do ano de 2019 para 2022.
“A análise dos dados apresentou uma redução da proporção de mulheres (SUS-dependentes) que realizaram o exame em alguns municípios capixabas. Assim, evidencia-se a necessidade de intensificar esforços para garantir o acesso e a adesão aos programas de prevenção e rastreamento no Espírito Santo, visando reduzir a incidência e mortalidade do câncer do colo de útero no estado”, registra o estudo.
Câncer de colo de útero no ES
A incidência do câncer de colo de útero tem aumentado nos últimos anos, e para cada ano entre 2023 e 2025, prevê-se que haja cerca de 17.010 novos casos no Brasil, resultando em uma taxa bruta de incidência de 15,38 casos por cada 100 mil mulheres. O Espírito Santo ficou com a 5ª menor taxa (9,40 por cada 100 mil mulheres) de incidência de neoplasia maligna de colo de útero entre os Estados, atrás apenas de Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
O câncer é causado por infecção sexualmente adquirida com determinados tipos do papilomavírus humano (HPV) e atualmente há duas vacinas anti-HPV aprovadas e disponíveis no Brasil. No Espírito Santo, está sendo aplicada a vacina quadrivalente, em duas doses, que protege contra os tipos 6, 11,16 e 18. Ela é eficaz contra as lesões precursoras do câncer do colo de útero, principalmente, se utilizadas antes do contato com o vírus, e por isso, os benefícios são mais significativos antes do início da vida sexual.
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