A necessidade de uma atuação integrada pelos profissionais que estão no contexto de atendimento aos estudantes em situação de violência ou vulnerabilidades psicológica foi destacada e debatida pelos palestrantes do primeiro dia de oficina do projeto “Semear Cidadania”, na tarde desta quinta-feira (12).
Após a apresentação da coordenadora pedagógica Joice Lamb, que mostrou o projeto “Aprender e compartilhar – Escola Inovadora”, do Rio Grande do Sul, na segunda metade do evento os participantes trouxeram reflexões sobre as ações para o enfrentamento às violências e como a escola deve estar integrada à rede de proteção.
A enfermeira Solange Lana, que atua na vigilância de violências da Secretária Municipal de Saúde de Vitória, mostrou a necessidade de sair dos muros da escola e trabalhar com uma rede, e de trazer o problema das violências como um problema de saúde pública.
Segundo ela, o agravo da violência é multifatorial, tem uma complexidade grande e contribui para a manifestação de comportamentos violentos nos espaços, entre eles, no espaço da educação.
Os impactos das violências na vida das crianças e adolescentes vão desde o comprometimento do desenvolvimento físico e mental, até os danos ao bem-estar social, emocional, psicológico e cognitivo. Estudos trazem associação da exposição às violências a transtornos depressivos, ansiedade, baixo desempenho escolar e comportamento agressivo, destacou Solange.
A legislação posta define que o sistema de garantia de direitos tem três eixos: o do cuidado, o da responsabilização e defesa, e o do controle.
“É importante ampliar o olhar, pensar as práticas pedagógicas, e pensar na inserção dessa escola na rede de proteção do território. Discutir a violência vai sempre nos exigir muito, e exigir a mudança de práticas”, afirmou.
Na sequência, quem contribuiu para o debate foi a pedagoga e especialista em violência contra criança e adolescente da Secretaria Estadual de Saúde, Edleusa Cupertino. Em sua fala, ela destacou a necessidade de tomar atitudes para cuidar e proteger os alunos.
“O que faz diferença é a tomada de decisão, que é do profissional, da equipe e do gestor da pasta. Ela vai dar o norte, deixando que o agressor continue, ou para encaminhar a vítima para um atendimento que vai tirá-la daquela situação”, pontuou.
Edleusa ressaltou que a violência é um problema de saúde pública, que traz impacto na mortalidade, nas morbidades (dependências em que a população fica das políticas públicas) e nos adoecimentos psíquicos.
“Nenhum de nós é suficiente para resolver a questão da violência. Nem a educação sozinha, nem a Justiça, nem a Assistência Social. Daí a necessidade de trabalharmos de forma conjunta, sequencial, cada um de nós no seu lugar observando sinais e sintomas, complementando as informações para disparar o cuidado, e a escola é um ponto focal bastante importante, porque os sinais e sintomas que aparecem lá, ainda não são tão graves como os que já chegam na saúde. Entrar com o cuidado numa população apontada pela educação, é um avanço para diminuir o grau de gravidade das violências que chegam até a saúde”, acredita.
Na prática
No terceiro momento da oficina, os expositores trataram dos diálogos de construção de paz na relação com o fortalecimento das relações na escola. A psicóloga Marcia Dall´Ortho, que atua no Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Sesa, o qual atende também pacientes após tentativa de suicídio, relatou que tem percebido um aumento na faixa etária de adolescentes com episódios de tentativa de suicídio ou de lesões autoprovocadas.
Ela destacou a importância de abrir um espaço de diálogo na escola, que possibilite o estabelecimento de uma relação diferenciada, de confiança, e que é importante dar atenção aos sinais de mudança de comportamento, que podem indicar condutas auto-destrutivas ou suicidas.
Trumam Vieira, da Secretaria Municipal de Educação de Vitória, também participou, mostrando que após o surgimento do jogo “Baleia Azul”, nos últimos anos, as secretarias de educação, saúde e assistência da Capital se reuniram para pensar ações inter setoriais, emergenciais e permanentes, para a identificação, acolhimento acompanhamento. Surgiu então o programa “Diálogos do Ser para Conviver”, implementando práticas restaurativas na educação, trabalhando com o ciclo de construção de paz e de comunicação não violenta.
Por fim, os profissionais Eliana Marques, do Conselho Estadual de Educação, e Clésio Venâncio, da Secretaria de Saúde de Cariacica, apresentaram a experiência da escola estadual do município de Cariacica, José Leão Nunes, onde foi feita uma ação de intervenção, pela equipe pedagógica e posteriormente, pela área da saúde, após terem observado que estudantes estavam fazendo automutilação, e desenhos que demonstravam ideação suicida.
O trabalho cuidou de 26 meninas e 6 meninos, no qual a equipe identificou, acolheu, notificou e os encaminhou para a unidade de saúde. Dos 32 alunos, apenas 1 precisou ser levado ao nível da psiquiatria, segundo Clésio. O restante foi atendido pela atenção básica, que conta com equipe de saúde mental, em que todos assumiram o compromisso da assistência, para que a Unidade de Saúde se tornasse espaço de expressão para os adolescentes.
O encerramento do primeiro dia de oficinas coube à promotora de Justiça Maria Cristina Pimentel, que parabenizou o TCE-ES pelo evento, que contribui para que a sociedade passe a ter um olhar diferenciado com as crianças.
“O evento de hoje foi despertador, faz com que a rede seja revista, se torne ativa, em especial a partir deste momento da pandemia. Há uma frequência tímida dos estudantes ao retorno às aulas, e fomentamos hoje a busca ativa escolar. Nela, vão ser identificadas as violências que podem estar intrínsecas nessa relação família, escola e estudante”, concluiu.
O segundo dia de Oficinas do “Semear Cidadania”, foi realizado nesta sexta-feira (12), a partir das 13h30, com transmissão ao vivo pelo Canal da Escola de Contas do TCE-ES do YouTube.
Reveja aqui o primeiro de da oficina, na íntegra.
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