O velejador Lars Grael, campeão mundial e duas vezes medalhista olímpico, inspirou, na tarde desta quinta-feira (26), os servidores do Tribunal de Contas. Ele foi o palestrante durante a celebração pelo Dia do Servidor Público, comemorado neste sábado (28). Lars contou detalhes de sua carreira – as dificuldades do início, as vitórias, a pressão por resultados, o acidente ocorrido em Vitória, e a readaptação para voltar às competições.
O presidente do TCE-ES, conselheiro Rodrigo Chamoun teve a honra de introduzir a palestra de Grael e lembrou do dia do servidor do ano passado, que contou com a presença do ex-atleta Oscar Schmidt. “A vida no apresenta muitos imprevistos. Quem diria que um atleta como o Oscar fosse passar por um câncer tão forte como ele mesmo contou? Quem poderia imaginar que um velejador, atleta olímpico, fosse sofrer um acidente na nossa calma Baía de Vitória?”, questionou Chamoun.
“Esses dois casos mostram pra gente como converter uma crise em crescimento. E isso só é possível com talento, disciplina e, sobretudo, coração”, concluiu o presidente convidando então Lars Grael ao palco do auditório.
O velejador disse, de fato, estar muito lisonjeado por estar no Tribunal, onde reencontrou o médico João Alípio, que prestou os primeiros socorros, logo após o acidente na Baía de Vitória.
Começo
Lars Grael contou que foi o avô, um imigrante norueguês, que apresentou a vela como um esporte para a família. “Meus tios já eram competidores quando meu irmão, Torben, e eu começamos a velejar. No início não tínhamos muitos recursos e nossos barcos eram bem inferiores aos demais”, disse Lars lembrando, por exemplo, uma vez que precisou usar um adesivo rígido e uma cenoura para consertar o barco no dia de uma regata.
Competindo com o irmão, Lars foi campeão mundial de vela em 1983, em Porto, Portugal. Sucesso conquistado, a dupla passou a sonhar com a vaga olímpica. Contudo, Lars e Torben foram para categorias diferentes e ambos conseguiram se qualificar para as Olimpíadas de 1984, em Londres.
Enquanto Torben conquistou a medalha de prata, Lars terminou em sétimo colocado. Mas a medalha olímpica viria quatro anos depois, em Seul. Graças a um patrocínio que recebeu inesperadamente, Lars conseguiu um material de qualidade e conquistou o bronze. “Todas as regatas foram disputadas em condições extremas. Vento derrubando barco, helicóptero caindo no mar. Conquistamos o bronze, mas, para nós, reluziu como ouro”, contou.
Já em 92, em Barcelona, “deu tudo errado”. O medalhista olímpico disse que, à época, liderava o ranking internacional, mas os ventos fracos, somados à cobrança e favoritismo o fizeram ficar sem o pódio. Naquele ano, o Brasil não ganhou nenhuma medalha na vela.
Posteriormente, em Atlanta 96, veio um novo bronze. “Julgava que eu estava no auge da carreira, sonhava com a medalha de ouro. Então, veio o acidente”, disse. “Numa fração de segundos minha vida mudou. A partir daquele momento não era luta por troféus e medalhas. Era luta pela vida.”
Adaptação
O acidente aconteceu em setembro de 1998. Lars disse ser muito grato pela população capixaba que, na época, organizou campanhas de doação de sangue para ele. Após um início de tratamento beirando a depressão, Lars mudou seu ponto de vista ao encontrar uma enfermeira que havia precisado, assim como ele, amputar uma das pernas.
“O pessimista reclama do vento, o otimista espera ele mudar, o realista ajusta as velas. E com essa frase lembro que minha família me encheu de referências para que eu pudesse continuar”, recordou.
Ainda em 1998, os irmãos Grael iniciaram um projeto social em Niterói; foi convidado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a ingressar na vida pública, tornando-se gestor na Secretaria Especial do Esporte.
Ao voltar a competir, incentivado pelo irmão Torben, Lars alcançou ótimos resultados. “Antes meu objetivo era ganhar medalha, troféu e, se possível, ganhar dinheiro. A partir do acidente passei a velejar contrariando a lógica, combatendo preconceito e servindo de inspiração para os outros”, disse.
Em 2015, velejando ao lado de um jovem formado pelo projeto social, Lars Grael voltou a ser campeão mundial. “Acho que meu mérito sempre foi a persistência. O teimoso sempre repete o mesmo erro. Já o perseverante se adapta para tentar alcançar o objetivo. Acho que só isso explica os 32 anos que se passaram entre um título mundial e outro”, contou.
“E essa mesma persistência vocês precisam ter. Deixo meus parabéns a todos vocês e digo que o TCE-ES vem fazendo a diferença trazendo transparência para o Estado, melhorando a gestão dos governos até tornar o Espírito Santo uma referência nacional nas contas públicas”, disse Grael ao final e desejando “bons ventos” a todos os servidores, antes de receber uma singela homenagem das mãos do presidente Chamoun.
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