
A falta que um Churchill faz
Winston Churchill não foi apenas um comandante em tempos de guerra, mas foi, sobretudo, uma força civilizatória que, em meio à escuridão da Segunda Guerra Mundial, ergueu a tocha da razão, da dignidade e da esperança. Enquanto bombas reduziam cidades a escombros, suas palavras galvanizavam uma nação e reacendiam a fé da humanidade na liberdade. Foi ele quem, ao lado de Franklin D. Roosevelt, plantou as sementes de uma nova ordem mundial, fundada na cooperação entre os povos, na reconstrução da Europa e na consagração do multilateralismo como pilar da paz duradoura.
Churchill venceu com armas, sim, mas especialmente com ideias. Compreendia que, para além da vitória militar contra o nazismo, era imperativo construir uma paz baseada em pontes, não em muros. Sua defesa de um pacto entre nações inspirou a fundação da ONU, lançou as bases da integração europeia e sinalizou ao mundo que a liderança verdadeira exige sacrifício, visão de longo prazo e compromisso inegociável com valores universais como: liberdade, democracia e responsabilidade histórica.
Hoje, esse legado encontra-se sob ameaça concreta. Vivemos a ascensão do isolacionismo, do nacionalismo protecionista, da política da confrontação e da guerra tarifária. Em vez de fortalecer alianças históricas, líderes extremistas empenham-se em erodi-las com tarifas unilaterais, retórica beligerante e desprezo deliberado pelas normas que regem a convivência civilizada entre as nações.
O contraste é brutal. Churchill sabia que liderar é servir à História. Outros agem como Nero diante de Roma em chamas, não apenas provocam o incêndio, mas o contemplam como espetáculo. Em tempos de transição e de incerteza, o mundo não precisa de incendiários, mas de estadistas; não de egos inflamados, mas de consciências lúcidas que articulem consensos e inspirem confiança coletiva.
Mais inquietante que a conduta dos incendiários, no entanto, são os aplausos que recebem. Há um setor crescente da população global que deseja, ainda que inconscientemente, esse tipo de líder: alguém que destrua, que rompa, que ofenda. Alguém que “ponha fogo” em tudo o que represente o mundo interdependente, complexo e plural que nos sustenta. A figura de um “Nero contemporâneo” atrai justamente por prometer, com teatralidade e fúria, a libertação de todas as frustrações, mesmo que à custa da civilização.
A ausência de um Churchill, hoje, não é apenas simbólica, também é um vácuo perigoso. O mundo precisa, com urgência, de lideranças que compreendam o peso da História e a importância das instituições. Que saibam, como Churchill soube, que comandar é construir, não entreter: é responsabilizar-se pelo futuro, não alimentar o colapso. A História, com seu crivo implacável, não reverencia imperadores vaidosos. Reverencia os que, em meio ao caos, optaram por edificar.
A verdadeira liderança, de qualquer espectro ideológico, é aquela que constrói pontes para o amanhã.
Rodrigo Chamoun
Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo
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