Empresários do setor da construção, além de representantes da maioria dos órgãos contratantes de obras no território capixaba, debateram, nesta quarta-feira (07), os principais problemas que vêm afetando o desenvolvimento regular das diversas obras públicas do Estado. Na abertura, o presidente do Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCE-ES), conselheiro Rodrigo Chamoun, destacou que no Brasil, além do abismo fiscal, há o déficit da infraestrutura, mas há uma saída: a iniciativa privada assumir o papel de investidor do segmento.
O webinário faz parte de um ciclo de debates regionais para discutir o estudo “Labirinto das obras públicas”, que está sendo realizado nos estados visando entender os entraves locais e buscar soluções para destravar as obras. A iniciativa é do Comissão de Infraestrutura (Coinfra) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), cujo presidente é Carlos Eduardo Lima Jorge.
Dentre outros destaques sobre o tema, ele falou da importância do evento. “O objetivo central é estabelecer e proporcionar um diálogo cooperativo e respeitoso para que possamos, juntos, encontrar ferramentas que nos garantam segurança jurídica. Como em todos labirintos, existe saída”, disse.
Pandemia
Ao iniciar o debate, o presidente do TCE-ES falou que o país percorre por caminhos difíceis, contextualizando a situação fiscal brasileira. “O Brasil está no respirador, num abismo fiscal. Desde 2014, o país acumula um déficit primário absurdo. Acumulou-se quase R$ 600 bilhões. Isso dá uma média de R$ 97 bilhões por ano. Esse é o problema do Brasil antes da pandemia”, frisou.
Neste ano, a previsão era um déficit de R$ 118 bilhões. Mas, devido aos gastos necessários para conter a pandemia, esse total pulou para R$ 828 bilhões. “Isso representa 12% do PIB. Equivale a toda economia prevista com a Reforma da Previdência, nos próximos 10 anos, aproximadamente”, comparou o conselheiro.
Ele enfatizou que o orçamento brasileiro é muito rígido. Para se ter uma ideia, relatou, 84% do que se arrecada são para despesas obrigatórias, onde três quartos vão para previdência e pessoal.
“Então, temos três problemas grandes que sufocam a capacidade de investimento do Estado brasileiro. Um é o pagamento da dívida, outro, previdência, e o terceiro, pessoal. A capacidade de investimento do Estado brasileiro chega 2% do PIB, aproximadamente. Há estudos que apontam que este dinheiro não é suficiente nem para manter o patrimônio público”, salientou.
Paralelamente a isso, destacou, há também não só o déficit fiscal, mas o déficit brutal da infraestrutura em todas as áreas, como estradas, rodovias, aeroporto, saneamento e habitação.
“Temos um país que tem sua capacidade de investimento estrangulada e uma urgência de fazer investimento, não só para gerar emprego, mas para resolver o problema da competitividade e da qualidade de vida do brasileiro. Na competitividade, estou falando de ferrovia, porto, estrada, e na qualidade de vida, de saneamento, habitação. Então, há saída. É a iniciativa privada assumir o papel, porque não há dinheiro público, e nem haverá nos próximos anos”, assinalou o presidente do TCE-ES.
Controle externo
Neste contexto, ele citou alguns instrumentos que proporcionam a iniciativa privada a investir em obras públicas, como as parcerias público privadas, concessões, citando o novo marco do saneamento. O conselheiro ressaltou, contudo, que há, de fato, a necessidade de o investidor ter segurança jurídica.
Ele salientou também que é preciso reconhecer o importante papel do controle externo. Os órgãos controladores, explicou, têm a função de orientar, mas sempre vai haver um atrito entre quem controla e quem é controlador. Há de se considerar ainda os parâmetros da Lei de Licitações (Lei 8666).
“É, de fato, muito difícil. Há uma necessidade de um debate mais amplo, e desmontar mitos. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) fez um estudo dos motivos de paralisação de obras públicas. Três por cento são judicializadas. O primeiro ponto é constatar isso: o Brasil não tem dinheiro para fazer investimento, precisa da iniciativa privada e esta, por sua vez, precisa de segurança jurídica. E o controle precisa de cumprir o seu papel, que é garantir que o dinheiro público seja aplicado, que a aquisição governamental garanta eficiência”, frisou.
Eficiência, resumiu, é garantir a qualidade, a tempestividade e o melhor preço possível. “Não existe preço impossível. Nós não praticamos isso nas nossas vidas. Então, não possível praticar na vida pública também”, enfatizou o conselheiro da Corte de Contas.
Debate
Também participaram do evento os presidentes do Sinduscon-ES, Paulo Alexandre Gallis Pereira Baraona (que falou sobre o apagão na engenharia); do Sindicopes, José Carlos Chamon (que debateu a objetividade e a subjetividade da Lei 8666); além do diretor-geral do DER-ES, Luiz Cesar Maretto (que relatou a respeito da geração de emprego no setor para reduzir a desigualdade social).
Participaram ainda Carlos Aurélio Linhalis (diretor presidente da Cesan); deputado estadual Marcelo Santos (presidente da Comissão de Infraestrutura, de Desenvolvimento Urbano e Regional, de Mobilidade Urbana e de Logística da Assembleia Legislativa); Rodrigo Francisco de Paula (procurador-geral do Estado); Ícaro Gomes (Sanevix Engenharia); Gustavo Peters Barbosa (Serrabetume Engenharia); e Fernando Vernalha (Doutor em Direito e sócio do escritório Vernalha Guimarães e Pereira Advogados).
O tema da palestra inicial foi “Propostas Metodológicas ao Labirinto das Obras Públicas”, com o engenheiro José Eduardo Guidi. No Painel de debate, o assunto foi “Vícios de Contratação e Soluções Viáveis no Curto Prazo”.
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