Após os debates sobre as medidas pedagógicas eficientes para diferentes cenários da pandemia, as estratégias e experiências dos outros países com a Educação e as aulas presenciais durante a pandemia também foram temas trazidos para reflexão na primeira Ciranda do projeto “Semear Cidadania”, realizada nesta quarta-feira (26). A fundadora e pesquisadora do “Vozes da Educação”, Carolina Campos, apresentou dados de um levantamento feito pela entidade, que analisou as práticas de 21 países sobre a educação básica.
Ela destacou como fundamental a necessidade de fazer “bolhas” de estudantes, ou seja, dividi-los em grupos, e isolar os grupos para haver um melhor monitoramento delas e seja possível evitar mais facilmente que se contaminem. Esta foi a lição deixada por muitos países, segundo a pesquisadora.
“Quando a gente colocar as crianças de novo na escola, a gente vai fazer um escalonamento de volta, porque é assim que os outros países têm feito, e esses locais estão conseguindo evoluir bem. Sabemos dos desafios e diferentes realidades do Brasil, mas há formas de fazer isso acontecer com segurança”, cita.
Nesta estratégia, explicou, o professor que está na bolha de uma turma não pode ir para outra sala, os professores não podem ficar juntos na sala dos professores, tomar cafezinho, almoçar juntos. Pois é nesses momentos que esses adultos podem se contaminar. E, os estudos nos mostram que são nessas horas que há maior contaminação dentro da escola.
“Muitos países que conseguiram implementar o monitoramento com sucesso, estão identificando que o contágio não acontece no ambiente escolar, e sim quando os pais estão chegando para entregar as crianças, por exemplo. Aí tem que pensar em um escalonamento para horário de saída, não misturar as bolhas na hora do intervalo, no transporte escolar. É como se a gente estivesse estabelecendo critérios de que a turma só se encontra durante o momento da aula. Depois, ela precisa ir embora, e para sair da escola, não pode ter contato com alunos que estejam em outras turmas. É um desafio absurdo para os gestores mas gera um benefício infinitamente maior para os alunos”, comentou Carolina.
Ela também destacou que nenhum país pesquisado condicionou a volta presencial das aulas à vacinação. Além disso, em janeiro de 2021, o Brasil passou a ser o 5º país com mais tempo de escolas fechadas no mundo.
Carolina destacou que, a Bolívia, que fechou as escolas e cancelou o ano letivo em 2020, conseguiu uma reviravolta e está trazendo os alunos de volta à escola ao unir os atores e implantar ações planejadas e engajadas.
Carolina também mencionou que mesmo em Israel, que hoje tem uma das maiores taxas de vacinação do mundo, já houve várias e sucessivas aberturas e fechamentos das escolas, pois há alguns meses não houve implementação correta de protocolos sanitários e planejamento de ações.
Outro exemplo citado foi o da Suécia, onde não houve fechamento das escolas, e os dados mostraram que o nível de contaminação entre os professores não foi maior do que em outras profissões. Já Uruguai e Argentina deram o exemplo de iniciar o retorno presencial pelas escolas de zona rural, o que foi considerado bem-sucedido.
Considerando esses exemplos, em especial o caso da Bolívia, a pesquisadora apontou um dos caminhos a ser considerado na Educação. “A Bolívia tinha uma comunicação muito ruidosa do governo com a comunidade escolar, o que gerava baixa confiança da população nas orientações. Quando a Bolívia muda seu discurso, ela sai de cenário ruim e vai para um mais positivo. Por isso é importante entender que o que sai da boca do gestor ou secretário, também precisa sair da boca do diretor de escola, e do professor. União e clareza na comunicação fazem diferença. A verdade é que os pais querem saber é se a escola está sendo ou não um lugar seguro para seus filhos. Países que conseguem se comunicar bem, ou mudar sua forma de se comunicar, se deram melhor”, avalia.
A situação do ES
Após a contextualização com a situação mundial, o panorama da política sanitária da Educação no Espírito Santo foi o tema da palestra do secretário de Estado da Saúde (Sesa), Nésio Fernandes. O secretário prevê um cenário de expressiva retomada das escolas a partir do segundo semestre deste ano.
Nésio resgatou o histórico da tomada de decisões sobre a possibilidade de reabertura das escolas, desde março de 2020, e citou as normatizações feitas por meio de portarias conjuntas entre a Sesa e a Secretaria de Estado da Educação (Sedu). Segundo ele, hoje o Estado também tem uma ampla capacidade de testagem para casos suspeitos de Covid-19 nas escolas, e que todas elas tiveram que elaborar um plano estratégico de prevenção e controle para poder reabrir.
O secretário destacou que em 2021 o governo passou a admitir o retorno das aulas presenciais da Educação Infantil e do 1º ciclo do Ensino Fundamental mesmo para municípios classificados como “risco alto”, pois o governo entende que a Educação tem uma centralidade entre as políticas públicas que devem ser priorizadas nesta fase de recuperação.
“Desde abril, tenho feito reiteradas recomendações aos gestores municipais de que eles procedam com planejamento para passos mais avançados na retomada da educação no segundo semestre. Creio que já teremos um controle robusto dos óbitos pela Covid-19, e poderemos alcançar, em outubro, a vacinação de praticamente toda a população adulta no país. E há evidências que apontam que a transmissão em crianças não é significativa e determinante para o desenvolvimento de novas expansões da pandemia. Novos passos deverão ser dados para que a gente tenha uma retomada mais ampla e geral da educação em todos os níveis no segundo semestre”, avalia.
Após a fala do secretário, outras autoridades participaram de uma roda de diálogo sobre os pontos apresentados. Estiveram presentes o desembargador Tribunal de Justiça do Estado (TJES) e supervisor da Coordenadoria das Varas da Infância e Juventude, Jorge Henrique Valle dos Santos; a juíza e coordenadora das Varas da Infância e Juventude do TJES, Patrícia Pereira Neves; a promotora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio de Implementação das Políticas de Educação do MPES, Maria Cristina Rocha Pimentel; a procuradora regional dos direitos do cidadão do MPF-ES, Elisandra Olímpio, e a defensora pública e coordenadora da Infância e Juventude da DPE-ES, Adriana Perez dos Santos.
Esperança
Encerrando o evento, o conselheiro ouvidor do TCE-ES, Carlos Ranna, destacou que as palestras e as falas da tarde mostraram que estamos diante de uma situação nova, que requer de todos um novo olhar, mais atento e mais cuidadoso. “Para superarmos essa nova realidade, precisamos nos superar não só em planejamento pedagógico, mas também na atenção aos protocolos sanitários, na gestão eficiente de recursos e, principalmente, em união de esforços para adotarmos políticas educacionais, de saúde e financeiras capazes de promoverem a integração da educação de todos os estudantes capixabas.”
Ranna agradeceu as colocações das palestrantes, em especial sobre a prioridade do retorno às aulas presenciais. Ele ainda questionou que, se outras atividades não pararam, como oficinas mecânicas, supermercados, shoppings, restaurantes, por que parar a escola? De acordo com ele, a escola é um dos lugares mais seguros, segundo pesquisas e evidências científicas e a educação deve ser prioridade. Mas, o retorno ao ambiente escolar tem que ser com todas as normas de segurança adotadas.
“Nós não temos escolha simples. Quem se adaptar mais rápido e se planejar para gerir com mais excelência os recursos, terá mais sucesso em garantir a educação a todos. A escola pública além de fornecer a educação, oferece comida, dignidade, esperança e luz”, finalizou.
As próximas Cirandas ao longo do ano irão tratar dos seguintes temas:
- A escola como um centro de cidadania – os desafios da educação perante as vulnerabilidades sociais;
- Como aliar acolhimento com inclusão e segurança – educação inclusiva e educação infantil durante a pandemia;
- Custo escolar, eficiência da entrega da educação ao aluno – gestão e políticas públicas para uma educação de qualidade.
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