O pontapé inicial para os trabalhos de elaboração do Plano Estratégico 2022– 2027 do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES) foi dado nesta quinta-feira (21), com o evento de lançamento do projeto, que contou com duas importantes palestras para fornecer um panorama sobre o mundo pós-pandemia e sobre os desafios do auditor do futuro.
Como o Plano Estratégico será construtivo e colaborativo, conselheiros, auditores, servidores, e também pessoas da sociedade civil puderam acompanhar o evento, realizado virtualmente, pelo canal do TCE-ES no Youtube, para refletir e avaliar melhor sobre o que deve ser priorizado pela Corte para os próximos anos.
Na abertura, o presidente do TCE-ES, conselheiro Rodrigo Chamoun, ressaltou que os últimos instrumentos de planejamento estratégico, que firmaram a missão, valores, e toda a prática de governança, foram levados muito a sério no Tribunal, recebendo um acompanhamento sistêmico e intensivo.
“Chegamos aqui em um momento muito diferente, em que o mundo foi tomado pela tragédia humanitária, e que se forçou à criação de novos métodos de trabalho. A sociedade e servidores deste Tribunal poderão nos ajudar a definir nossa identidade organizacional, com missão, visão e valores para este novo ciclo, o que é um método indicado pela declaração de Moscou”, declarou.
A primeira palestra foi ministrada pelo doutor em Administração Paulo Vicente dos Santos Alves, da Fundação Dom Cabral. Chamoun destacou que a parceria da Corte com a instituição vem desde a transição da presidência do conselheiro Domingos Taufner para Sérgio Aboudib, e que de lá para cá, os ensinamentos vêm sendo colocados em prática.
Ciclos tecnológicos
Com a proposta de refletir sobre “Ciclos tecnológicos e o mundo pós-pandemia”, Paulo Vicente mostrou que enquanto há 30 anos, o foco das organizações era em ser de alta performance, para sobreviver aos próximos dez anos, elas terão de ser mais robustas, ter mais resiliência.
O professor abordou o cenário de duas formas: ciclos hegemônicos e ciclos tecnológicos e uma projeção futura. De acordo com ele, cada revolução tecnológica gera uma revolução social e cultural que, por sua vez, dá início a uma revolução econômica. Para Paulo Vicente, nunca haverá certeza sobre o futuro, mas é possível fazer projeções. Em sua palestra ele apresentou algumas, apoiadas na Teoria dos Ciclos de Kondratiev.
Essa teoria foi criada pelo economista russo Nikolai Kondratiev, durante o período de domínio da União Soviética. Defende que a dinâmica econômica global, a partir da primeira revolução industrial, é constituída de ciclos, onde fases de expansão econômica são seguidas de fases recessivas.
No momento atual, segundo ele, teríamos acabado de entrar na crise do final do ciclo tecnológico, que força a reinvenção do capitalismo.
“A pandemia causou um desequilíbrio ainda maior no sistema, forçando a mudanças mais rápida. O auge da crise, matematicamente falando, ficará entre 2023 e 2026. Por isso, os próximos anos serão turbulentos, difíceis, o que nos forçará a sair para um mantra de resistência”, acredita.
Isso deve ocorrer devido à volta da inflação e dos juros altos, afirma o professor.
“Até a metade do ano que vem haverá uma euforia grande, com uma demanda reprimida, vamos ver uma euforia das pessoas saindo de casa, voltando a consumir, e isso já está trazendo a inflação e os juros altos”, disse.
Novos formatos
Um dos cenários que ele visualiza para os próximos anos é o de uma economia “SOHO” (Small ofice e home office), e por isso trouxe reflexões sobre qual é o futuro do trabalho baseado nessas tendências tecnológicas, sociais e econômicas.
Ele defende que é preciso ter atenção a três eixos de possibilidades: o da extrema robotização da força de trabalho (para tarefas simples, perigosas e repetitivas), o da extrema longevidade e o da extrema dispersão do novo consumidor.
“A força de trabalho vai se alterar, e os empregos que sobrevivem são aqueles que envolvem lidar com gente, resolver problemas e ter criatividade. O problema não será a falta de emprego, e sim a falta de qualificação. Já com a extrema longevidade, as aposentadorias ocorrem cada vez mais tarde, e é preciso uma reforma na Educação para adaptar as pessoas à essa educação continuada, e para haver uma vida produtiva até mais tarde. Mesmo assim, ocorrerão choques culturais e políticos”, explicou.
Outra tendência é a dispersão geográfica das organizações.
“Isso vai levar tempo, traz alterações para o mercado imobiliário, mas vamos sair de um conceito de concentração para um conceito de rede, e isso vai afetar diversas cidades, particularmente cidades grandes”, afirma.
O professor também abriu o espaço para perguntas e reflexões dos participantes.
Servidor do futuro
Dando continuidade às discussões, o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Wesley Vaz falou sobre os desafios do auditor do futuro. Na avaliação dele, esse profissional é aquele que hoje percebe, constrói e representa a auditoria do futuro.
“Qualquer profissional do futuro, seja ele auditor ou não, só continuará relevante se evoluir as suas próprias capacidades a partir do que está acontecendo lá fora. Isso afeta, de maneira direta, a cultura de uma boa parte dos nossos auditores que, por todas as razões, acreditam em uma estabilidade, calmaria, que o mundo não nos permite acreditar”, assinalou.
Ele iniciou compartilhando reflexões a respeito das atividades do auditor. Uma delas foi sobre que tipo de problema resolver enquanto tribunal de contas. Depende da urgência, habilidade e recursos tecnológicos a serem utilizados para resolver tal dificuldade, ressaltou.
Na sequência, tratou da importância dos tribunais se tornarem especialistas na demanda, no problema que se quer solucionar e, por consequência, a tecnologia a ser desenvolvida será mais eficiente.
Também falou das novas capacidades para solucionar conflitos que surgirão. “Quando estamos fazendo planejamento estratégico é exatamente esse o momento de se discutir não somente para onde o TCE-ES vai, mas consolidar os problemas que o tribunal vai querer resolver, com as tecnologias que já tem hoje, dentro ou fora da instituição. E, para isso acontecer, novas capacidades precisam ser desenvolvidas, criadas, para que o planejamento saia do papel” salientou o auditor do TCU.
Nesse contexto, ele destacou ainda as três macroatividades do auditor, que são seleção, produção e impacto, salientando que todas dependem de tecnologia, além de fazer considerações sobre a Declaração de Moscou.
Encerramento
Encerrando os debates, o presidente do TCE-ES afirmou que o evento foi apenas o primeiro passo.
“Planejamento estratégico é para seis anos. Vamos voltar a debater muito internamente. A Declaração de Moscou será o mote para as nossas reflexões. Vamos encontrar dificuldades, mas vamos passar para frente”, assinou.
Confira o evento na íntegra:
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